A antropologia, enquanto disciplina sem uma via de profissionalização linear, continua a enfrentar dificuldades de afirmação no meio laboral, resultando numa crescente dificuldade das pessoas formadas em antropologia em aceder a trabalhos não precários. Esta linha de ação da APA tem como eixo central a profissionalização e o reconhecimento da disciplina. Pretendemos, por um lado, desenvolver um trabalho que permita diagnosticar os desafios enfrentados pelas pessoas que se diplomam nas áreas científicas da antropologia; e, por outro lado, desenvolver iniciativas que promovam uma rede de partilha de experiências e de visibilização de áreas de atuação e de atividades de antropólogas e antropólogos com intervenção não académica. Temos como áreas de atuação:
- Aprofundar o conhecimento e intervenção da APA sobre os contributos e desafios das/dos antropólogas/os fora do meio académico;
- Continuar a recolher informação sobre a condição laboral das pessoas formadas em antropologia;
- Criar uma base de dados de pessoas formadas em antropologia que trabalham em diferentes atividades, mas que mobilizam conhecimentos e metodologias da disciplina;
- Mostrar a relevância da inclusão da visão da antropologia em equipas multidisciplinares, no desenho, acompanhamento e avaliação de políticas públicas;
- Participar nas iniciativas da Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes;
- Emitir pareceres sobre estudos de impacto ambiental prementes, onde a pronúncia da APA seja relevante;
Atividade da Linha de Ação
Barragem do Pisão: terceiro parecer técnico da APA
Em resposta a mais uma fase do processo de consulta pública e no seguimento dos anteriores contributos da APA (ver abaixo), foi elaborado um novo parecer pela comissão técnica da APA que tem acompanhado os estudos de impacto ambiental do Projeto de Execução do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato que, entre vários impactes ambientais e sociais com a construção da barragem, irá obrigar ao realojamento da aldeia do Pisão.
Neste parecer datado de 23/11/2023, a APA posiciona-se relativamente à não conformidade de condicionantes e elementos relativos às Infraestruturas de Regadio do Aproveitamento Hidroagrícola do Crato (AIA 3473). Proposto pela Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo, o projeto da Barragem do Pisão é suportado pelo governo, que já emitiu declaração superior de interesse público nacional, e contará com 120 Milhões de Euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Neste seu posicionamento, a APA critica uma vez mais a ausência de profissionais de antropologia nas equipas técnicas deste projeto e a não existência de um plano de monitorização específico para o processo de desalojamento/realojamento da aldeia do Pisão. A APA continuará assim a participar ativamente na defesa do território, da sua população e da sua imensa riqueza paisagística (cultural e natural) contra uma lógica de desenvolvimento puramente extrativista.
Pareceres técnicos da APA em duas fases de Consulta Pública do Projeto da Barragem do Pisão (Crato, Alentejo)
Agosto de 2022:
Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (AHFMC)
Parecer da Associação Portuguesa de Antropologia no âmbito da consulta pública
1. O projeto do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (AHFMC), pela sua natureza e dimensão, reveste-se de especial complexidade em relação às transformações sociais que provoca e induz, às alterações no território e nos modos de vida das populações e nos efeitos destrutivos e desestruturantes nos testemunhos e elementos materiais e imateriais da identidade local, das suas vivências históricas e da sua construção coletiva.
A Associação Portuguesa de Antropologia (APA) entende, por isso, justificada uma tomada de posição acerca deste projeto, no âmbito do procedimento de consulta pública do respetivo estudo de Impacte Ambiental (EIA). Ao mesmo tempo, a APA espera que esta apreciação ao projeto e ao EIA do AHFMC constitua um alerta às entidades responsáveis pelos procedimentos de Avaliação de Impacte Ambiental para situações repetidas e normalizadas que entendemos como lacunas prejudiciais à melhor identificação de impactes e à apresentação de medidas mitigadoras, por consequência à melhor informação que possa basear a tomada final de decisão, como seja a ausência de especialistas com formação adequada em Ciências Sociais, nomeadamente em Antropologia, nas equipas técnicas responsáveis pela elaboração dos EIA. (…)
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Março de 2023:
Contributo da Associação Portuguesa de Antropologia no âmbito da Consulta Pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE) do Projeto de Execução de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (AHFMC)- Barragem do Pisão- Infraestruturas Primárias (AIA 3473)
(…) Nesse sentido, a APAntropologia volta a reiterar o que já tinha afirmado aquando do processo de consulta pública do mesmo projeto em fase de estudo prévio: não se compreende a opção de não inclusão de um plano de monitorização específico para o processo de desalojamento / realojamento da aldeia do Pisão, que trará implicações humanas no curto, médio e longo prazo. A não definição de um programa de monitorização específico para este processo, que permitiria definir aspetos particulares a monitorizar, metodologias de seguimento adequadas e objetivos verificáveis quanto aos resultados desse processo complexo, seria, certamente, um instrumento do maior valor para os trabalhos a desenvolver e para a entidade promotora do empreendimento (Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), particularmente para a comissão de acompanhamento de reinstalação a criar, conforme decorre do Elemento 26 definido na DIA e da respetiva resposta constante no RECAPE, sobretudo se esses trabalhos, como defendemos, tiverem contributos especializados de profissionais de Antropologia.
(…)
[CONTINUAR A LER: Parecer APA RECAPE Barragem do Pisão Final ]