CAFÉ COM ANTROPOLOGIA || “Comunidades, conhecimentos locais e sustentabilidade: relações controversas?”

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 V Café com Antropologia
 Comunidades, conhecimentos locais e sustentabilidade: relações controversas?
 Livraria Ler Devagar
 23 de maio de 2019 às 19h
ORGANIZAÇÃO: Rede dxs doutorandxs em antropologia – CRIA
INTERVENIENTES: Fronika de Wit (doutoranda em alterações climáticas, ICS-Ulisboa), Joana Sá Couto (mestre em estudos do ambiente e sustentabilidade, ISCTE-IUL), Catarina Grilo (bióloga marinha). Moderador: Júlio Sá Rêgo (doutorando em antropologia, ISCTE-IUL/CRIA-IUL)

Os conhecimentos locais oferecem às sociedades contemporâneas soluções de manejo de recursos em complexos ecossistemas de floresta, montanha e zonas áridas. Contudo, não é raro encontrar exemplos e pesquisas em contrapé dessa posição denunciando a ameaça de certas práticas tradicionais ao ambiente. O V Café com Antropologia revisita essas controvérsias num debate com Fronika de Wit, Joana Sá Couto e Catarina Grilo. O Café com Antropologia é um ambiente descontraído que almeja a promoção de um diálogo informal e participativo.

Local knowledge provides contemporary societies with resource management solutions in complex forest, mountain and arid ecosystems. However, it is not uncommon to find examples and research against this position denouncing the threat of certain traditional practices to the environment. The V Café com Antropologia revisits these controversies in a debate with Fronika de Wit, Joana Sá Couto and Catarina Grilo. The Café com Antropologia is a casual environment that seeks to promote an informal and participatory dialogue.
 
 
Fronika de Wit
Fronika fez sua graduação em geografia humana e mestrado em estudos de desenvolvimento, ambos na Universidade de Utrecht, na Holanda. Após terminar o mestrado trabalhou com sustentabilidade local na câmara municipal de Dordrecht. De 2011 a 2016, ela viveu no Estado de Acre, na Amazônia Brasileira, onde trabalhou em projetos locais e internacionais socioambientais. Em 2016, Fronika começou seu doutoramento em alterações climáticas. O tema da sua investigação é Governança Climática Policêntrica na Amazônia, com estudos de caso no Brasil e Peru, sob a orientação do Professor João Ferrão.
Joana Sá Couto
Joana é licenciada em antropologia pelo ISCSP e mestre em estudos de ambiente e sustentabilidade pelo ISCTE-IUL. Ela tem vindo a interessar-se pelas questões ambientais e como estas têm vindo a afetar comunidades vulneráveis, tais como as comunidades piscatórias, os mares e oceanos, enquanto elementos naturais e culturais. A sua investigação tem como foco o impacto das alterações climáticas e do plástico na pequena pesca tradicional, utilizando a etnografia como método por excelência da escuta e empoderamento das comunidades.
 
Catarina Grilo
Catarina é bióloga especializada em conservação marinha, pescas e políticas do mar, e trabalha no Programa Sustentabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian. Recentemente, recebeu a Menção Honrosa do Prémio Terre de Femmes em Portugal pela criação do Cabaz do Peixe. É doutorada em Ciências do Mar pela Universidade de Lisboa, tendo também frequentado a Dalhousie University (Canadá); fez mestrado em Gestão Ambiental na Universidade Livre de Amesterdão (Holanda) e a licenciatura em biologia marinha na Universidade de Lisboa.
RESUMOS DAS INTERVENÇÕES
Associando os conhecimentos indígenas à elaboração de políticas de governança climática
Fronika de Wit
As alterações climáticas ameaçam o futuro da floresta amazônica e seus habitantes. As políticas de governança climática de cima para baixo estão falhando em enfrentar esse desafio, devido a uma perspectiva binária entre cultura e natureza que tem por consequência a exclusão das populações indígenas dos processos decisórios relacionados. Contudo, conhecimentos e práticas indígenas desenvolvidos e moldados em harmonia com a floresta contêm respostas adequadas a esse ambiente. Experiências práticas de incorporar o conhecimento indígena na governança climática na Amazônia brasileira e peruana têm se revelado exitosas, encorajando o fortalecimento do diálogo entre autoridades e povos indígenas em suas ações conjuntas para a mitigação e adaptação às alterações climáticas.
Conhecimento local tradicional e sustentabilidade: o caso da pequena pesca de Setúbal
Joana Sá Couto
Em Portugal, um conjunto de factores tanto económicos, como políticos, sociais e ambientais estão a contribuir para o aumento da vulnerabilidade da pequena pesca. Estas comunidades, no caso particular de Setúbal, têm vindo a sofrer uma pressão acrescida por indivíduos que que os consideram responsáveis por problemas ambientais marítimos, enquanto que, paralelamente, se realça a imagem pitoresca do pescador, utilizado como elemento de identidade local e para fins turísticos. Perante esta situação, torna-se relevante realçar a voz dos pescadores, que, pela grande relação de proximidade com o meio natural, conhecem-no profundamente. Pretende-se assim clarificar esse paradoxo, a partir da realidade social complexa da comunidade, reflectindo acerca do conhecimento tradicional local gerado pela experiência no decorrer da atividade piscatória e a sua importância para a sustentabilidade, através da redução de custos e resíduos.
Conhecimento tradicional versus conhecimento científico: interrogações de uma bióloga
Catarina Grilo
Tanto o conhecimento tradicional/indígena/local como o conhecimento científico procuram criar ordem a partir do caos, identificar padrões e relações de causalidade entre fenómenos para melhor compreender e prever o mundo que nos rodeia. No entanto, historicamente, tem havido uma atitude de desprezo para com o conhecimento tradicional/indígena/local, baseado nas diferenças entre ambos. Defendendo que não são irreconciliáveis nem mutuamente substituíveis, antes complementares, a tentativa de recorrer a ambos levanta inúmeras questões adicionais que irei explorar do ponto de vista da conservação marinha e da gestão das pescas: O que fazer quando os dois conhecimentos se contradizem (pesca da sardinha)? O que são práticas tradicionais e quando é que deixam de o ser (arte xávega)? O que fazer quando as práticas ditas tradicionais põem em causa espécies ameaçadas, ecossistemas frágeis ou a sustentabilidade de stocks de pesca (pesca lúdica no Sudoeste Alentejano)?